Sananga: Para que serve e quais os efeitos do colírio da amazônia

Sananga é uma medicina tradicional indígena da Amazônia, utilizada há séculos por diversas etnias, principalmente entre os povos Kaxinawá, Yawanawá, Huni Kuin e outros grupos do Acre e do Peru. É um colírio feito a partir das raízes ou cascas de uma planta chamada Tabernaemontana undulata, que pertence à família das Apocynaceae.

É utilizada em rituais de cura espiritual e para o tratamento de questões físicas e energéticas.

Sananga: Colírio indígena e medicina sagrada

A medicina indígena da Amazônia carrega consigo uma sabedoria ancestral que transcende os limites da ciência moderna.

Entre as diversas práticas curativas dos povos nativos, destaca-se o uso da Sananga, um colírio feito a partir da planta Tabernaemontana undulata, amplamente utilizado por tribos como os Kaxinawá, Yawanawá, Huni Kuin, entre outros.

Esta medicina, aplicada diretamente nos olhos, não é apenas uma ferramenta de cura física, mas também um instrumento poderoso para purificação espiritual e reconexão com o sagrado.

Origens e Tradição

A Sananga tem suas raízes nas profundezas da Amazônia, uma floresta que guarda mistérios e conhecimentos passados de geração em geração.

Entre os povos indígenas, a Sananga é conhecida como uma medicina de limpeza, frequentemente usada em rituais espirituais que buscam aumentar a conexão com o mundo invisível, curar desequilíbrios energéticos e abrir o "terceiro olho", proporcionando uma visão espiritual mais clara.

Os povos Kaxinawá e Yawanawá, por exemplo, acreditam que a Sananga pode trazer uma nova percepção da realidade, permitindo aos indivíduos enxergar além do físico e conectar-se com a natureza e o universo em um nível profundo.

Durante séculos, esses povos utilizaram a Sananga para tratar doenças oculares e também para ampliar sua capacidade de observação durante a caça, acreditando que a clareza de visão proporcionada por esta medicina lhes permitia captar movimentos e detalhes sutis na floresta.

Composição e Preparação

A preparação da Sananga começa com a coleta das raízes ou cascas da Tabernaemontana undulata, uma planta que cresce em áreas tropicais da Amazônia.

Os curandeiros e pajés, detentores desse conhecimento, preparam o remédio com extremo cuidado, geralmente triturando as raízes até obterem um extrato líquido, que é diluído em água.

A receita pode variar de acordo com a etnia, e a concentração do colírio depende do propósito do ritual.

A Sananga não é aplicada indiscriminadamente; a preparação do indivíduo é essencial. Antes da aplicação, os participantes costumam passar por uma limpeza energética, jejuar ou meditar para estarem prontos para receber a medicina.

Isso garante que o processo de cura seja conduzido com respeito, equilíbrio e propósito claro.

Usos e Benefícios Terapêuticos

Na cultura indígena, a Sananga é mais do que apenas um colírio. Ela é uma ferramenta para a purificação profunda e cura. Seus efeitos podem ser descritos como intensos, principalmente devido à forte ardência que provoca nos olhos.

Entretanto, é justamente essa dor inicial que é considerada uma parte fundamental do processo de cura.

Fisicamente, a Sananga é usada para tratar diversas condições oculares, como conjuntivite, catarata, e problemas de visão em geral. Ela também tem sido empregada para tratar dores de cabeça, sinusites, insônia, ansiedade e outros males associados ao desequilíbrio energético e emocional.

No entanto, os benefícios mais notáveis da Sananga são de natureza espiritual. Para muitos, ela atua como um portal para uma visão mais clara da vida, dissolvendo bloqueios emocionais e permitindo uma reconexão com a essência espiritual.

Em cerimônias xamânicas, a Sananga é frequentemente usada em conjunto com outras medicinas sagradas, como o Ayahuasca e o Rapé, para aumentar a profundidade da cura e o insight pessoal.

O Processo de Aplicação

O ritual de aplicação da Sananga pode variar, mas geralmente é realizado por um xamã ou curandeiro experiente.

A pessoa que recebe a Sananga deita-se ou curva a cabeça para trás em um espaço tranquilo e protegido. O curandeiro aplica o colírio diretamente nos olhos, que devem permanecer abertos. A ardência é imediata e intensa, muitas vezes provocando lacrimejamento, o que é visto como parte do processo de purificação.

Durante o ritual, os participantes são incentivados a focar na respiração e a permitir que a medicina faça seu trabalho.

O processo de "queima" dos olhos pode durar alguns minutos, e após a aplicação, os participantes frequentemente relatam uma sensação de leveza, clareza mental e renovação espiritual.

Aspectos Espirituais e Energéticos

Para os povos indígenas, a Sananga não é apenas um medicamento, mas um verdadeiro espírito curador.

Ao entrar em contato com os olhos, ela ajuda a liberar bloqueios energéticos que podem estar impedindo o fluxo natural da energia vital. Isso inclui não apenas bloqueios físicos, mas também emocionais e espirituais.

Os indígenas acreditam que ao abrir os olhos com a Sananga, abrimos também nossa percepção para outros planos de realidade.

Em muitos casos, a medicina é vista como um facilitador para entrar em estados meditativos profundos, onde o indivíduo pode confrontar medos, traumas e encontrar respostas para questões pessoais.

Além disso, muitos usuários da Sananga relatam experiências místicas, sentindo-se mais conectados à natureza e ao cosmos após o uso regular da medicina.

O Uso da Sananga em Rituais de Ayahuasca

Dentro dos rituais de Ayahuasca, a Sananga é aplicada nos olhos como um colírio potente, provocando uma sensação intensa de ardor, seguida de clareza visual e energética.

O objetivo dessa aplicação é purificar o corpo, abrir a visão espiritual e fortalecer a conexão com o ritual, ajudando os participantes a se prepararem para as experiências profundas que a Ayahuasca proporciona.

Essa medicina é considerada especialmente eficaz para limpar bloqueios emocionais e energéticos, trazendo foco e equilíbrio antes de entrar no estado alterado de consciência induzido pela Ayahuasca.

A Sananga age diretamente na energia do indivíduo, limpando medos, traumas e emoções negativas que podem atrapalhar a experiência com a Ayahuasca. Além disso, acredita-se que ela também melhora a percepção visual literal e espiritual, intensificando as visões e o entendimento profundo que podem surgir durante o ritual.

Embora a aplicação da Sananga nos rituais de Ayahuasca não seja uma prática universal, em muitas comunidades e grupos espirituais ela desempenha um papel crucial. O uso da Sananga antes da ingestão da Ayahuasca prepara o campo energético e o corpo físico para receber as lições e a cura oferecidas pela bebida sagrada, potencializando os efeitos de purificação e autoconhecimento.

Como ambas as medicinas têm uma ligação profunda com o mundo espiritual, seu uso combinado em um contexto ritualístico pode intensificar a jornada de cura e transformação pessoal.

Considerações importantes

O uso da Sananga em rituais e práticas de cura deve ser feito com cautela e sabedoria. Por ser uma planta de poder, não é recomendado o uso contínuo e indiscriminado.

Sua função ritualística e curativa carrega uma capacidade espiritual, portanto, deve-se respeitar o momento e a intenção do uso. A planta pode ser aplicada de forma pontual em rituais de purificação ou cura, sendo importante evitar o abuso para não perder a conexão espiritual proporcionada por sua aplicação.

A duração dos efeitos da Sananga pode variar de pessoa para pessoa. O desconforto inicial, como o ardor nos olhos, geralmente desaparece em poucos minutos. No entanto, os efeitos espirituais, como o equilíbrio energético e a expansão da visão espiritual, podem durar dias após a aplicação.

É comum que muitos relatam um aumento na clareza mental e na percepção espiritual, além de uma sensação de purificação que se estende além do momento do ritual.

A Sananga não é uma substância alucinógena e, quando usada corretamente, não apresenta perigos significativos. No entanto, existem algumas contraindicações importantes. Evite usá-la logo após cirurgias oculares ou se estiver utilizando lentes de contato.

Além disso, pessoas com sensibilidades aos componentes bioativos da planta podem ter reações alérgicas. Como com qualquer medicina de poder, é fundamental conhecer seu corpo e possíveis sensibilidades antes de utilizá-la.

Conclusão

A Sananga, como tantas outras medicinas indígenas, carrega em si a sabedoria de séculos de práticas espirituais e curativas. Seu uso transcende o físico, alcançando o emocional, o mental e o espiritual. Aqueles que se aventuram em sua prática devem estar preparados para o impacto inicial e a jornada transformadora que ela pode proporcionar.

Mais do que um simples colírio, a Sananga é um elo entre o mundo visível e invisível, um remédio poderoso que conecta o ser humano ao espírito da floresta.

Em um tempo em que muitos buscam por novas formas de cura e conexão, o renascimento do uso da Sananga fora dos círculos indígenas demonstra o poder intemporal da medicina da floresta, que continua a curar, transformar e iluminar.